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  • Se a arte por si só pode parecer intimidadora, produzir a primeira publicação de uma revista que aborda sobre essa temática é também igualmente desafiante. A Revista Propágulo Nº1 trouxe as diferentes formas de menção ao corpo como mote para a curadoria realizada na sua primeira edição. A narrativa proposta se dá através do cruzamento entre vivências e processos dos artistas que, de forma colaborativa, fizeram a revista acontecer. 

     

    A edição é iniciada com a entrevista da artista aoruaura realizada por Nathália Sonatti. No texto, a redatora discute o trabalho da artista, que enxerga seu trabalho como uma maximização de si mesma, sendo o espaço onde pode atingir seu momento de maior satisfação existencial, a partir de conceitos de alteridade, performance e autenticidade. Para Nathália, é a partir do outro que passamos a nos enxergar como indivíduos, sendo um olhar de alteridade o que guia nossas atitudes. "Em contramão, a busca de aoruaura se distancia disso na medida em que esses outros que a legitimam como indivíduo são os diferentes 'eus' que a constituem, os quais o obedecem em um ciclo onde seus vários espectros estão intercalados e, por vezes, reaparecem em novas versões de si mesmos". Nessa conversa, aoruaura deixa nítido que o momento da performance é o mais próximo da sensação na qual a natureza está sendo beleza, beleza sendo natureza.

     

    Em "A aura do fragmento", a redatora convidada Guilhermina Velicastelo analisa e discorre sobre o trabalho de aoruaura a partir dos seus estudos no campo das artes visuais. Para Veliscastelo, aoruaura é uma artista que, ao mesmo tempo, é um conjunto no qual medo e desejo estão paradoxalmente unidos em estranhamento. No texto, a redatora discute sobre uma arte e sua artista na qual a existência de ambas, em uma confluência única, estão mais para o nível do estar momentâneo do que o ser permanente. Assim "ela faz parte da natureza, ela é dela cria e criadora. O ato de se fotografar, de se referenciar é resistência de singularidade diante de um mundo e uma cultura cada vez mais massificadora. A sua originalidade está no que os seus diferentes eus causam às pessoas: estranhamento". 

     

    A permanência dos contrastes na trajetória de Luiza Branco é abordada na entrevista realizada por Nathália Sonatti sobre a artista recifense que também compôs a primeira edição da Revista Propágulo. Depois da série Sombria, com mais de 200 trabalhos relacionados ao corpo feminino, Luiza Branco deixou a arte figurativa de lado e partiu para se aventurar em outro mundo, o abstrato. Nesse texto, sua ida para São Paulo, os hábitos de desenho durante sua infância e as imposições sociais sofridas por ser mulher, as quais inspiram suas séries de obras, são uma constante abordada na conversa com a redatora. 

     

    "Como a gente constrói esse caminho de dedicação a nós mesmas?" Esse é um dos questionamentos lançados por Marcela Dias no seu ensaio "Barreiras na afirmação do 'eu' feminino". A artista visual recifense fala sobre alguns dos conflitos encarados e vivenciados na sua experiência enquanto artista e mulher, usualmente acostumada a não mostrar seu trabalho, a não fazê-lo e até a não estar presente nos lugares onde se é preciso estar e ocupar. Questionando-se a começar e como perder as inseguranças inscritas nas mulheres dentro de uma sociedade machista, Marcela propõe no texto o exercício de olhar para essas características de podagem feminina, em uma tentativa de se colocar enquanto artista e mulher.

     

    Abròs Barros também foi entrevistade na Revista Propágulo Nº1. Fascinade pelas diferentes formas de expressão artística, Abròs conta em conversa com Nathália Sonatti sobre as suas ocupações no grafite, na ilustração, assim como nas tatuagens que realizava. Sendo ume artista plural, ao explorar múltiplas linguagens ao longo de sua produção, buscando suas referências em movimentos artísticos como graffiti, poesia, música, performance, instalação, e até dança e teatro, Abròs relata no texto sobre suas vivências e do mundo que a cerca, através de suas obras vorazes, cheias de assimetria e traços cortantes.

     

    "O graffiti e o movimento Hip Hop fortalecem sim. Mas cadê as minas?". A grafiteira e estudante de artes visuais, Nathê Ferreira, lança em seu ensaio algumas indagações sobre o movimento responsável por denunciar todas as dificuldades que a periferia tem que conviver dia após dia. A redatora convidada evidencia em seu texto sobre a invisibilização das mulheres dentro dessas manifestações artísticas, nas quais ocupam usualmente uma posição de "homenageadas" pela figura masculina, mas quase nunca como produtoras e protagonistas dos seus próprios trabalhos. 

     

    Espaço que ganhou texto de Bruna Lira e Nathália Sonatti para a edição, o Risco! grupo experimental de desenho se tornou um marco de inovação na cadeia das artes visuais. Na reportagem, são abordados a origem do grupo, que teve como idealizadores alguns professores de Artes Visuais, além dos encontros realizados pelo coletivo, que se propunha a ser "um lugar de encontro para pessoas experimentarem desenho ou performance, considerando o gesto criativo da performance do modelo vivo". 

     

    Por fim, a Revista Nº1 apresenta a Galeria, um espaço para contato inicial entre público e artista. Nesta edição, foram apresentados os artistas visuais Abraão Sednanref, Sofia Carvalho, Lucie Salgado, Gabriel Furmiga, Magris e George Teles.

    REVISTA PROPÁGULO 1

    R$ 35,00 Preço normal
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    • Edição/Curadoria/Organização: Guilherme Moraes
      Coordenação: Guilherme Moraes
      Projeto Gráfico: Heitor Moreira
      Produção Executiva: Rodrigo Souza Leão
      Capa: Abròs Barros
      Artistas: Abraão Sednanref, Abròs Barros, Aura do Nascimento, Gabriel Furmiga, George Teles, Lucie Salgado, Luiza Branco, Magris, Sofia Carvalho,
      Textos: Bruna Lira, Guilherme Moraes, Guilhermina Velicastelo, Marcela Dias, Nathália Sonatti, Nathê Ferreira
      Revisão: Bruna Pires, Guilherme Moraes
      Comunicação: Rodrigo Souza Leão

    • Título: Propágulo 1
      Mês e ano de lançamento: Dezembro de 2017
      Páginas: 56
      Formato: 18x25,5 cm
      ISSN: 2596-2213
      Idioma: Português

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